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domingo, 21 de novembro de 2010

Achado

O coração arrombou o peito.

Os olhos sombrios arderam,

Tal fogueira numa casa abandonada.

O corpo girou em torno da chama.

Procurei-te, tacteei-te, afastei-te,

Eras poeira real, insuportável e ferina,

Como se o passado fosse deserto.

Lembrei-me de quando ainda estavas longe.

O meu coração não se atrevia, detinha-se.

Os olhos não queimavam, jaziam.

O corpo deambulava sem roteiro.

Poeira estava nos meus olhos perante o fado.

Olhei-me sôfrega cobrando um sinal teu.

Uma linha, uma cicatriz, um sinal,

O teu odor intenso esquecido no ar,

O teu sorriso espelhado nos meus olhos,

A tua voz encoberta a soar nos meus ouvidos.

Mas não sabia eu que o que me deixaste

Foi a noção da tua existência.

Aonde estás? Ainda vou descobrir.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Durezas deste mundo

Estando nós num mundo dito globalizado, deparo-me diariamente com casos que me fazem pensar, que apesar de estarmos teoricamente mais unidos há tanto que nos separa…

Procurava notícias pelo mundo virtual, tentando fugir ao tema que agora nos é apresentado diariamente, o filho do Cristiano Ronaldo, querendo o povo sofregamente saber quem é a mãe (isso é que é um assunto que dá pano para mangas naquelas conversas chatas de café); o problema que Manuela Moura Guedes enfrenta com o Primeiro-Ministro, problemas que por vezes só servem para nos desviar do que realmente é preocupante. Só nos distraem e nos fazem pensar cada vez menos e nos problemas mais fúteis que nunca farão um país ser levado além fronteiras pelos melhores motivos.

Deparei-me com um título que apesar de infelizmente ser muito banal ainda, por vezes contudo abafado: “Iraniana pode ser apedrejada até à morte”. E a razão? Sakineh Ashtiani ter sido obrigada a confessar adultério (com 99 chibatadas) e mesmo tendo recuado na confissão, foi-lhe imposto o apedrejamento. Os seus filhos intervieram, pedindo clemência, mas debalde, pois o código do seu país assim dita: em caso de adultério a mulher deve ser punida com pena de morte.

Pergunto-me eu: quem pode ditar o fim de uma vida, ainda mais da forma bárbara que esta mulher vai ter? Segue-se uma longa espera, pois a morte é quando alguém decidir. Esse alguém, tão corajoso, não mostra a cara.

Duvido que contra estas práticas, a palavra seja suficiente, mas tento pelo menos incentivar quem aqui passar a também alastrar esta notícia, mesmo pelas mulheres que sofrem maus-tratos no nosso país, que a pouco e pouco vão sendo “apedrejadas” e condenadas a morrer pelo menos interiormente. Talvez não sejam suficientes as notícias, a revolta que este caso tem originado, mas que se abra os olhos para o que em pleno século XXI ocorre.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

"Ninguém é de ninguém/Quando a vida nos contém."

Ontem na rádio, naquelas célebres meditações, fizeram uma pergunta que nunca me tinha surgido “pertences a quem?”. É certo que é uma pergunta bastante ingrata. Provavelmente quando a leram pensaram logo “óbvio que aos meus amigos, familiares…” mas eu pensei: não pertencemos a ninguém.

A partir do momento que pertencemos a alguém, deixamos de pertencer inteiramente a nós próprios pois seremos quase como marionetas que seguem o rumo que o outro assim espera ou manda, e não o natural, o que nos é inato. Não, não estou a adoptar a filosofia do Ricardo Reis de não pertencer a ninguém por considerar mais fácil no caso do fado nos trair mas a assumir a posição de que uma vida é algo muito abstracto para poder pertencer na verdadeira acepção da palavra a outra.

Podemos fazer parte de uma outra vida, de ser muito significativos para alguém, mas não somos objectos e como tal, pertencemos primeiramente a nós mesmos, alias se assim não for, é impossível conseguir ser crucial na vida dos demais. Agora defendo que integramos várias vidas, que marcamos de várias maneiras, e vamos sendo influenciados por quem também nos é importante. E ainda bem que assim é.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

14

O Imperador Cláudio II, durante o seu governo proibiu a realização de casamentos no seu reino, com o objectivo de reunir um forte exército. Esta proibição adveio do facto de o Imperador acreditar que se os jovens não constituíssem família se alistariam mais facilmente no exército. Contudo um bispo romano, de seu nome Valentim, continuou a celebrar casamentos mesmo com a proibição do imperador.

Quando foi descoberta a sua desobediência, Valentim foi preso e condenado à morte. Enquanto este estava preso, muitos jovens lhe fizeram oferendas, como flores, bilhetes, em que diziam que continuavam a acreditar no amor.

Entre as pessoas que jogaram mensagens ao bispo estava uma jovem cega, chamada Asterias. Asterias era filha do guarda que zelava pela prisão de Valentim, e pediu ao seu pai permissão para visitar o bispo. Os dois apaixonaram-se e milagrosamente Asterias recuperou a visão. Recebeu uma carta de amor de Valentim que estava assinada “de seu Valentim”, expressão que actualmente ainda é utilizada. Valentim foi decapitado a 14 de Fevereiro de 270. A data da sua morte marca também a véspera de lupercais, festas anuais que eram celebradas na Roma Antiga em honra de Juno (deusa da mulher e do matrimónio) e de Pan (deus da natureza). Um dos rituais do festival era o passeio da fertilidade em que os sacerdotes caminhavam pela cidade batendo em mulheres com correias de couro de cabra, segundo os quais assegurava a fecundidade. Na Idade Média, dizia-se que o 14 de Fevereiro era o primeiro dia de acasalamento dos pássaros, pelo que os namorados medievais aproveitavam esta ocasião para deixar mensagens.

São Valentim é um santo reconhecido pela Igreja Católica e Igrejas Orientais, que deu origem ao Dia dos Namorados em muitos países. O nome refere-se a pelo menos três santos martirizados na Roma Antiga.

E hoje?

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Quantos vales vales?

Realmente o mundo está cada vez mais engraçado. Soube esta semana que o Governo Civil e a GNR de Bragança vão premiar os condutores sem álcool com vales de desconto em estabelecimentos comercias fruto de um projecto para a segurança rodoviaria.

Entendo que se aplauda os condutores que conduzem sem excesso de álcool, mas daí a ser com vales de desconto, não entendo muito bem. Encaro este “prémio” equivalente ao jogo que se faz com as crianças “Comes a sopa toda dou-te um chocolate”. Neste caso o vale, que não nos garante que não será trocado por bebidas álcoolicas.

Há que travar a sinistralidade rodoviária, promover a responsabilidade de todos na segurança das estradas, mas porquê que as pessoas têm que ser premiadas por fazer algo que lhes compete? Está legalmente definido que é proibido beber enquanto se conduz (e antes também sim) então porquê que vamos premiar meia dúzia de “bonzinhos” que fazem o que está correcto? Esta situação até me coloca a questão: será que o número de infractores é assim tão grande e há que ver os poucos que respeitam?

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

flash-back

Devo confessar que tive que criar uma nova password pois com o tempo que estive afastada já não me lembrava da anterior.
Tinha saudades de cá vir, mas por vezes ou é o tema que não surge ou é a preguiça que me vence... Mas foi hoje que lhe venci!
Estava a ver alguns dos textos que fui escrevendo aqui ao longo destes 3 anos (uma vida!) e encontrei um parágrafo muito curioso que escrevi em 2007, com 15 anos: "...Um caso que por vezes ouço, é de pessoas com idades até aos 18 anos que dizem que aos 18 fazem o que sempre quiseram.
Não sei se é por ver a Liberdade não como algo oferecido de imediato, mas sim merecido, que acho que estes ideais são pouco inteligentes.
Não digo que não se sonhe em ter futuro, qualquer pessoa o faz, mas porquê dizer que aos 18 se será dono de si mesmo, se se puder fazer com que a confiança aumente em vez de ficar á espera, pois em certos casos até nem se trabalha por ela."
Curioso pois fiz neste sábado 18 anos e devo dizer que sempre foi uma idade que quis alcançar. Quando me imaginava como adulta era sempre com essa idade. Sim, eu sei que no futuro continuarei a ser. Alguns amigos perguntam-me "como é ter 18 anos?" ao que eu respondo "é igual". É óbvio que exige maiores responsabilidades, mas não é a partir do momento que sopro as velas dos dezoito anos que me torno uma pessoa mais responsável, madura se nunca o fui. Mas que é uma idade que me faz "futurar" é.
Este foi o ponto de arranque deste ano, por vezes o que custa é dar o primeiro passo mas agora quero continuar a caminhar. Vou começar a investir novamente em textos críticos, sendo uma das áreas que me fascina, mas peço que não me processem caso não concordem pois sendo eu maior de idade, bem que posso ir presa... :)

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