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quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Comentário ao ano que vai

“2008 é o presente ano do calendário gregoriano, tendo sido iniciado em uma terça-feira. É o último ano bissexto da década de 2000 e marca o aniversário de 2000 anos da dinastia”. Chega! Não é isto que as pessoas querem ler. Querem tragédia, desastres, derrotas, crises, e é disso que vou falar, analisando o ano de 2008.
A meu ver, 2008 foi um ano bastante peculiar que vai ficar na história por ter tido acontecimentos que antes não se registaram, como por exemplo a tão falada eleição de Obama. Foi o ano em que o Bush, também dos EUA, levou com um belo par de sapatos na…cara.
Foi o ano em que a gasolina registou os maiores valores, mas que depois diminuíram imenso, um cêntimo (em algumas gasolineiras) quase no final do ano. Vá lá, quem recebeu isto que não tenha o desplante de reclamar as poucas prendas que recebeu no Natal…
Aliado ao preço do petróleo, o preço da comida também aumentou. Quem tem carro nem sempre tem dinheiro, ou seja, ou come ou anda de carro. Isto para os que ainda podem optar.
Os meios de comunicação abraçaram o tema “crise”, que andou de boca em boca, qualquer coisa má que existisse era da crise. Afinal a globalização também pode ser má.
O frio apareceu, foi da crise. As doenças aumentaram, devido à crise… Em resumo, a crise foi uma verdadeira crise.
Mas a meu ver, estes nem foram os assuntos mais preocupantes de 2008. Os piores para mim foram os conflitos que teimam em existir, entre Geórgia e a Rússia que tanta gente arrastou e matou, tudo possivelmente devido ao maldito petróleo e também à acusação de ocupação território da Geórgia por parte da Rússia… conflitos existentes também entre outros países, na sua maioria devido também ao petróleo, que parece a água deste século.
Em 2008 também foi o ano em que foram passadas para o exterior, o maior número de agressões a professores, há nove meses devido a um telemóvel, em Dezembro devido a uma pistola de plástico. É um ano que indicia o que se vai ver nos próximos.
Desastres naturais também foram bastantes, sendo o que causou mais mortes o terramoto que se deu na China, furacões nos EUA; violações abafadas também foram faladas, mas grande parte não teve solução este ano, quem sabe nos próximos...; Os assaltos aumentaram, e o número de banqueiros acusados de corrupção também.
Isto foi um pequeno resumo dos temas que a meu ver foram dos mais preocupantes deste ano, já que me foi pedido pela Débora Val que explorasse este tema, e eu também a desafiei com outro com ele relacionado, sobre a validade das perspectivas para um novo ano.
Uma coisa que me irrita é que se comece nos finais de Dezembro a falar mal de um ano que ainda nem se iniciou. Deixem-nos ao menos esquecer isso durante a passagem de ano, vamos ter muito tempo para sentir isso.
Aproveito para desejar um excelente ano de 2009, e lembrem-se que se queremos mudança devemos agir nas pequenas coisas, pois as queixas por si só não resolvem nada.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Guitarra

A guitarra ecoa pelas estreitas ruas, misturando-se com as roupas meticulosamente estendidas, os cozinhados nas janelas, os velhos à porta da tasca, poucos lhe são indiferentes.
A viúva chorosa levanta-se do seu pranto e persegue o som, ele teima em fugir. As pernas curvadas da idade não a deixam ser um pouco mais ágil e correr. As suas roupas negras acabadas de lavar, devotamente coradas, ficam no chão exageradamente alvo.
As crianças continuam nas ruas, alheias ao que se passa porém sem saberem estão a brincar ao som da música que eclode pelo ar, os seus movimentos tornam-se ora mais velozes, ora mais estáticos.
O padre, que ouve a guitarra como se esta estivesse dentro da própria Igreja, ajoelha-se e a medo começa a inventar uma possível letra, intercalando com rezas fielmente decoradas.
O autor desta música é o boémio da aldeia. Aquele que ninguém aconselha para conversa, por mais pequena que seja. Enquanto toca a música, que decidiu fazer para quem quisesse ouvir, chora, sentado na pedra fria da calçada junto à Igreja. A barba por fazer, o cabelo encaracolado encrespado, e as unhas muito compridas que dão outro toque à guitarra. As roupas que nunca foram lavadas são invisíveis perante os seus olhos azuis, que são tidos como hipnotizadores, outro factor que o coloca em desvantagem.
A viúva já se encontra mais próxima, no meio das vizinhas à conversa, conseguiu chegar ao que queria, e a quem queria. Mesmo sendo interpelada, o seu olhar e as suas orelhas só têm um sentido.
Olhando-o inicialmente com pudor, senta-se a seu lado, e pela primeira vez faz algo após a morte do seu marido sem se preocupar com as criticas dos moralistas. Acaricia-lhe o cabelo, e a música começa a soar mais alto, chamando mais a atenção que o próprio gesto. Espontaneamente a viúva tira o seu lenço negro que muitos julgavam já ser o seu cabelo, e coloca sobre os seus ombros começando a cantar.
As outras viúvas, e as raparigas prometidas juntam-se á volta do boémio que agora vai ser perseguido não pela sua vadiagem, mas pelo chamariz que se tornou, mesmo estando abatido.

Escrito enquanto ouvia "Verdes Anos", de Carlos Paredes, música que ouvem neste momento.
Aproveito para informar os meus leitores que no texto anterior, também do dia 29 de Dezembro, lancei um desafio e pode estar presente o vosso nome, confiram.

Resposta ao desafio da Ana Carolina do blogue: http://oblogdaminhapessoa.blogspot.com/

Escolher um artista/banda:
Queen


Responder às seguintes questões somente com títulos de canções do artista/banda escolhido:

És homem ou mulher?” "April Lady"
Descreve-te:” “Made in Heaven”
O que é que as pessoas pensam de ti?” "Good Company"
Como descreves o teu último relacionamento? "Tutti Frutti”
Descreve o estado actual da tua relação: “Crazy love”
Onde querias estar agora? "Barcelona”
O que pensas a respeito do amor? “A Kind Of Magic”
Como é a tua vida? “Under pressure”
O que pedirias se pudesses ter só um desejo? “Stop All The Fighting“
Escreve uma frase sábia:” “There Must Be More To Life Than This”


Escolher quatro pessoas para responder ao desafio sem esquecer de os avisar:
http://lua-do-antiquario.blogspot.com/
http://caldeiradesousa.blogspot.com/
http://myplace-renatinha.blogspot.com/
http://inocentesverdades.blogspot.com/

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

A Dança

Estamos num salão amplo e vermelho, onde só as pessoas destoam, com as suas roupas aparatosas e desconectadas ao mote daquela festa.
Rodeado de espelhos, ao longe vê-se as escadas onde desce uma mulher, alta e magra, aparentemente demasiado viril para dançarina. Com o seu vestido vermelho para não quebrar o cliché do tango, e o seu cabelo negro fortemente apanhado, começa por olhar fatalmente todos os convidados.
Mal chega ao tapete vermelho, começa a dançar o seu tango, e ele, algures no imenso público olha-a atentamente com receio de um convite. Sim agora são elas que convidam, e sim ela é capaz de fazer isso. Começa por levantar-se receosamente e ela pára mesmo à sua frente. Ambos se olham, os seus olhos negros misturam-se com os olhos negros dela. Não existe contraste mas sim sintonia.
O convite surge, e agora? O “cavalheiro andante” aceita e imediatamente é arrastado para o centro do salão. As luzes focam-nos. Ela observa-o como se fosse a toureira e ele o touro. A tourada inicia-se.
Fugas planeadas dão lugar a uma dança sem igual. Os dois corpos unem-se, como peças que não vivem uma sem a outra. Os pés dele já se mexem energicamente, e o seu cabelo negro e desalinhado esconde a sua cara de satisfação. Ela, apenas faz o que mais gosta, dança com o homem que a fascinou naquela noite. Como estão a dizer alguns é apenas mais uma das suas loucuras. Que assim seja.
Eleva-se o som, apenas para eles, que já percorreram todos os pontos do salão. Ela pára e pede-lhe: “Abrázame esta noche” e ao ver o voltar repentino da sua figura, abraça-o brutalmente e ao seu ouvido diz: ”Aunque no tengas ganas prefiero que me mientas. Acércate a mi, abrázame a tí por Díos, entrégate a mis brazos”


Escrito enquanto ouvia Lula Pena com o tema Pasión, composta por Rodrigo Leão, música que escutam neste momento. As frases em espanhol pertencem à mesma música.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Ele existe

Uma vez na escola perguntaram aos alunos o que era o Natal. Muitos responderam imediatamente “Natal é o dia em que recebo muitas prendas”, outras pretendendo agradar os pais que lá se encontravam disseram “Natal é o dia em que estou com todos aqueles que amo, os meus pais e amigos”.

No meio de várias frases feitas, a professora reparou que um aluno tinha ficado apático durante o diálogo, e perguntou-lhe “Então diz-nos, para ti o que é o Natal?”, ele coçando a cabeça em busca de ideias que teimavam em não sair disse somente a verdade “O Natal para mim é um dia como os outros. É diferente porque não tenho aulas. É diferente porque recebo no centro de apoio mais comida nesse dia, mas é um dia como outro qualquer. Não vejo os meus pais, porque eles já não vivem, e como deve saber vivo sozinho. Mas a melhor coisa que me acontece no dia de Natal é quando chega o Pai Natal, aliás eu fico a noite toda acordado á sua espera.”

Os seus colegas riram-se e diziam em coro que o Pai Natal não existia, que com a idade que tinha já o devia saber, e que o julgavam mais inteligente. Os pais, tentando garantir alguma cumplicidade riam-se e repetiam entre eles a história do rapaz.
A professora, que tentava manter a postura disse: “Sabes, o Pai Natal não existe. Aliás se tu nem tens dinheiro para comer como podes esperar pelo Pai Natal? Olha que acho piada ao teu sentido de humor, demonstra muita coragem perante a tua situação.”

O rapaz, que agora olhava todos com altivez disse: “Vocês acham que estão correctos? Então digam-me vocês o que significa o Natal? É o receber prendas como disseram? É a reunião com os familiares? Isso é uma consequência. Eu tenho o meu Pai Natal, que não é o velhote de barbas brancas e roupa vermelha, mas é um senhor que me dá comida e roupas para que possa ter uma vida mais digna.” “Se quiserem eu falo com ele sobre vocês, acho que vocês precisam de um Pai Natal”.
Aproveito este texto, que foi feito por mim, para desejar um Feliz Natal a todos, na companhia dos que mais desejam. Hoje é dia 24, o dia em que muitos permanecem na inocência e continuam a acreditar no Pai Natal, outros ficarão desiludidos ao saber que ele existe ou não existe depende de cada um e para outros é apenas mais um dia, tal como para o rapaz deste texto.
Desejo também um Feliz Ano de 2009, apesar de passar aqui antes de 2008 acabar.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Nossos laços

Os cordões manejam-me.
Os nós enfrentam os laços,
Os andares acanhados rompem,
E com eles saem-me pedaços.

Os passos estalam o chão,
Oscilo e estremeço a seu sabor.
Corrente forte e cavernosa,
Acaricia-te nesta noite de temor.

Estou no abismo, lança a corda.
Os meus laços já são nós fortes,
Mas os teus desprenderam-se.
Ata-os, com firmeza, é a hora.

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